Por Mark Trevelyan
LONDRES (Reuters) - O risco de que grupos como o Estado Islâmico possam infiltrar militantes na Europa no meio de uma enorme onda de imigrantes é muito menor do que alguns políticos sugerem, de acordo com especialistas em segurança com laços estreitos com os governos e agências de inteligência.
Até o fim de julho, mais de um terço do 1 milhão de imigrantes e refugiados tinha entrado na União Europeia, principalmente através de Itália, Grécia e Hungria, segundo a agência de fronteiras da UE, a Frontex. O fluxo continua inabalável em agosto.
Uma vez dentro das fronteiras do espaço Schengen do bloco, os recém-chegados --boa parte de países como Síria e Iraque, onde o Estado Islâmico detém influência sobre vastas áreas-- estão livres para viajar por 26 países sem restrições ou checagem de documentos.
Isso fez com que os partidos anti-imigração, como a italiana Liga Norte e o Ukip, da Grã-Bretanha, lançassem alertas sobre a ameaça de infiltração.
Mesmo o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, disse a repórteres em maio: "Claro, um dos problemas é que pode haver combatentes estrangeiros. Pode haver terroristas também tentando esconder-se... misturando-se entre os imigrantes."
Mas essas advertências se chocam com o ceticismo de especialistas em segurança, que observam que o fluxo de combatentes tem ido principalmente na direção oposta, da Europa para o Oriente Médio.
"O Estado Islâmico não tem necessidade de exportar combatentes para a Europa porque importa lutadores da Europa", disse Claude Moniquet, um ex-agente de inteligência francesa que lidera o Centro Estratégico Europeu de Segurança e Inteligência, em Bruxelas.
"Há cinco a seis mil europeus que estão ou estiveram na Síria, e outros estão partindo o tempo todo. Então, é difícil ver vantagem para Estado Islâmico em exportar sírios ou iraquianos, pessoas que falam árabe, que conhecem o Iraque e a Síria, e das quais eles precisam lá."
Para voluntários europeus que foram treinados e lutaram no Iraque ou na Síria, mas querem voltar para casa sem serem detectados, a ideia de se esconder entre os grandes grupos de imigrantes pode ter algum apelo.
Mas os riscos são enormes.
Cerca de 3.600 pessoas morreram tentando chegar à Itália, Grécia e Espanha por mar nos últimos 12 meses, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações -- cifras anteriores à notícia de outro navio naufragado na quinta-feira e da descoberta de 71 cadáveres de refugiados em um caminhão na Áustria.
Mesmo aqueles que sobrevivem à viagem para a Europa enfrentam terríveis condições no caminho, além do risco de serem detidos e interrogados na chegada.
"É uma maneira muito complicada para os terroristas entrarem na União Europeia. Há um monte de formas mais fáceis de entrar", como usar documentos falsos ou passaportes roubados, disse o diretor de pesquisas do Centro para Estudos de Ameaça Assimétrica do Colégio de Defesa Nacional da Suécia, Magnus Ranstorp.
(Reportagem adicional de Crispian Balmer, em Roma)